Meus desejos se realizam continuamente em sonhos.
Deito na cama, tiro os óculos
(perco a razão)
e o que vejo é feito de emoções.
Vejamos, então, como vêem as crianças míopes.
O sonho daquela cadeira distorcida verde é ser verde e redonda
e ela o é em parte.
O sonho daquela porta grande é ser cor-de-madeira e com uma maçaneta,
ela o é.
Entretanto,
direcionei-me para minha cômoda e a vi mais claramente por estar mais perto.
A vi lilás – queria ser cobre.
A senti lisa – deveria ser áspera.
Bati na sua madeira com a ponta dos dedos – e é feita do mesmo material que deveria ser feita, porque nestas coisas o Criador ainda não inovou.
E dormi. E sonhei.
Eu era aquela cômoda, no meio de móveis quase todos perfeitos,
era eu quem mais se destacava em imperfeição.
Tratei de acordar, mas mesmo assim era eu, enredada naquela trama intricada, a mais imperfeita das criaturas.
O mistério das coisas tão real como o mistério das pessoas:
Miopia mergulhada em complexidade.
26/07/09.
segunda-feira, 15 de março de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário