sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Arestas Farpadas

Gosto dos excessos de tinta no papel,
Das arestas mal lixadas,
Da sua incogruência no amor.

Mas será que não tem limites
minha falta de amor próprio?

Ineficácia

Fazíamos planos sem pé nem cabeça,
Sabíamos que não vigorariam
De fato.


Mas fazíamos
e nisso tudo éramos felizes.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Amor-elevador

Olhamo-nos e num segundo era paixão.
As portas se abriam e no outro era amor, pois me deixavas...
E assim procedia de nos encontrarmos casualmente com um desconserto já muito manjado, premeditadamente fazendo nossas mãos se encontrarem, calculadamente querendo - e não podendo - que não houvesse pitada sequer de malícia ali...
Nosso encontro reticente e efêmero se procedia dentro de um elevador. Tu aspirava a aspirar meu perfume, no cangote, ao menos uma vez. E eu expunha mais e mais o meu pescoço, numa dica sensível a suas pretensões.
Certo dia, não se conteve: fui agarrada ali mesmo, com desespero e ao som do escárnio da musiquinha complacente do elevador. Seu beijo tinha um pouco de gosto do aromatizador de ambientes. Algo que me lembrava de pastilhas de naftalina e essência de baunilha... É, algo assim. Não sei ao certo. Hoje, seu beijo só tem gosto de lembrança. Pior, lembrança de elevador com luz artificial, lâmpada fluorescente refletindo em metal. Se deus existisse, saberia como eu odeio esse tipo de luz.
Seu beijo, muito bom, era também muito edificante. Construímos nossas próprias estruturas, com vigas sólidas e elevadores. Muitos elevadores. E lá subimos, no topo de nossos andares, com vista panorâmica da cidade. Alto demais para que pudéssemos morrer diante daquela vista, mas alto demais para que sobrevivêssemos à queda.
E foi assim que caímos. Do terraço para o térreo - e mais, para o subsolo. Sim, amigo, amor-(de-)elevador tem dessas: quando você acha que vai ficar ruim, fica pior.
Por mais que tentassem, se deu como fato inevitável, tal qual nossa primeira troca de olhares. E no final, do que nos adianta perguntar porque nada se construiu na horizontal, de onde não se cai e se vê por novos ângulos o que já entediava dentro do cubículo, se era mesmo amor-(de-)elevador, amor-macarrão-instantâneo?
Demolimos.

Alienação com garantia em base fiduciária

Se começamos sem confiar
uns nos outros,
Terminamos sem confiar
em nós mesmos.
É mais difícil continuar vivo do que morrer.

Senhor, sim, senhor

Todos sentem
Todos sabem
e ninguém fala
A verdade.

Essa farsa insustentável,
Com a qual já não posso
mais, de estar "tudo bem, sim,
senhor".

Não, senhor, isso não é "bem"
nem bom -
Está tudo como está,
não como deveria.

Abre os olhos e veja!

Sob as cobertas

E queimar no seu amor imprudente
E queimar no frio do inverno
E queimar,
queimar no inferno desse seu amor frio.

Sete dias...

E você, que não morre?!

O Trambique

Um dia, M. se sentiu diferente. Acordou sabendo as horas, passou sua camisa impecavelmente, deu carinho a sua mulher e foi para o trabalho.
No caminho, chegou na hora para o ônibus e sentou-se do lado de um belo par de coxas e saltou no ponto final sem pisar na lama e não se atrasou.
Sorriu a secretária do chefe, bateu na porta da sala do chefe, ganhou abraço e cafézinho do chefe e começou a coisa do jeito certo: sentado no seu lado da mesa do chefe.
Eis que discutiam o desempenho da noite anterior - a final do campeonato do time do chefe, que passara a ser seu time. E com sua sabedoria recém-adquirida, procedeu de tal modo a crer que ganharia mais que um abraço do chefe a partir do começo do mês: um aumento. Sim, do chefe.
Começou rindo largo o desempenho do colega, A., promovido semana passada. Aumentou e promoveu também sua TV 40' para um home teather muito moderno, seu carro popular para um esportivo, sua noiva para esposa. Atacou, esquivo, pelo flanco direito, as pintagas que chorava sua mulher vendendo roupas - e nisso tudo o chefe concordava e cria. Foi quando tentou driblar a zaga e chegar nas vias de fato que percebeu que, honesto, era muito capaz no que fazia, mas sempre seria insuficientemente pilantra acerca de quaisquer pilantragens.
A., seu comparsa na semana anterior, era também seu Judas. O chefe esperava somente a justa causa.

Longevidade

eu queria viver pra sempre,
mas você me envelheceu anos em meses
e esse teu tango me cansou,
essa única dança que você sabe dançar
e eu não.

Tragédia

aliás, se eu soubesse que
iria acabar assim,
não importando o que eu fizesse,
teria sido ao menos canalha.

99

De repente, dos cem poemas de amor do Neruda,
noventa e nove parecem fazer sentido...

Dança dos dias

No compasso da humanidade,
sentimento horizontal
é traduzido na vertical.

Pragmática

Pela sua cara lavada,
Vejo que tem uma boa desculpa
Que não vou ouvir de qualquer forma.

Dar de Ombros

A vida é esse solene dar de ombros
Com que se morre a cada dia.

Sua face, agora bonita,
Jazerá com os vermes,
apodrecerá, feia.

E nada fazes perante isso
- verdade absoluta que não te escondem.
Nem nada fará
Ou poderá fazer.

Tu foras concebido, também,
Em um dar de ombros.
Não notarás o amor da sua vida na primeira vez que o encontrar,
Sequer decidirá racionalmente entre todas as escolhas da sua vida
Aquilo que melhor te servirá.

E os cuidadosos que me perdoem,
Mas você provavelmente morrerá
Com um dar de ombros.
(Seu ou de alguém - outro pobre coitado).

Nem tudo na vida a gente faz:
A vida é um passo em falso...

Alle wir sitzem im selbem Boot

Nós todos sentamos no mesmo barco
E bebemos do mesmo vinho
E quebramos as mesmas regras
E nos cortamos no arame farpado das palavras
Concretas sobre o concreto.

Temos nos traído
Traído de todas
as formas
Traído e caído.

Restamos sós nas mesmas madrugadas frias,
Iludidas por promessas
De vida nova.

Nós sentamos no mesmo barco
E perdemos a compostura
quando ele vira.

Contra fatos não há argumentos

Meu caro, o mundo é surdo.

Três macaquinhos

Não está em mim,
Não está comigo.

Não quer falar,
Não quer me ouvir,
Então me vira a face.

Não bastou a boa idéia,
Perdão tampouco.
Era preciso uma renúncia
Além dos limites conhecidos.

Você pressupôs contratos
Nunca antes assinados,
Você quis um pacto de sangue...

Não quer falar,
Não quer ME ouvir.

(Não estou contigo,
Não vivo em ti.
Vivo solta, passarinho,
Viro a face, flutuando,
Encontro novo amor.)

A Revolução não espera

Ensine-me a conspirar novamente,
Me perdi dos meus caminhos originais.

Mácula literária

Você descobre que é escritor quando se atormenta, segurando uma caneta, com duas páginas em branco e o abismo que se forma entre elas até a lombada do livro.
Há, sempre, de macular essa maciez.

A máxima da Sensatez

Para aqueles que gostam de máximas morais universalizantes:
anarre o cadarço com dois nós.

A mãe

-- Senhor Downs.
-- Olá. Pode se sentar ali – o psicanalista indicou o divã – e me contar o que está pensando.
-- O que estou pensando? – ela ergue a sobrancelha e virou-se para a parede, de modo a ir se recostando no móvel macio – Ora essa. Eu penso em muitas coisas, Sr. Downs. Penso nas roupas penduradas no varal e a chuva por vir, nos amores que perdi, na medida certa dos temperos. Sim, penso em tudo isso. Sabe, minha mãe me educou do jeito que fora educada – Fez pausa, piscando longamente os cílios. Sua narrativa desacelera – Na época dela, - tentou recordar-se de algo distante, intangível, algo que não vivera – uma mulher não precisava pensar e, se o fizesse, fazia melhor escondendo a ousadia sob as tarefas mais cotidianas o possível.
Se nosso maridos resolvessem, por acaso, dizia ela, assinar um contrato com um homem a quem juramos ter ouvido falar mal entre as conversas na feira, não diríamos que era bom no calote, não. Nossos maridos diriam, nos espantando com a mão: ‘sai daqui, mulher; de dinheiro entendo eu’. Contudo, arranjaríamos nos seus modos um olhar galanteador suspeito não existente, um andar com colônias caras, bengala e abotoaduras condizentes com um esbanjo nunca antes visto – elementos plantados por nossa astúcia que, soprados aos ouvidos de nossos homens, os fariam tremer e, por fim, rascunhados em suas mentes vazias durante o almoço e a noite na cama fria na qual o deixamos a sós com seu orgulho, nossos garotos estariam de novo no caminho certo.
Sim, garotos. Garotos que sugaram os peitos de minha mãe e de mulheres que vieram antes dela, até a Mãe Natureza propriamente dita. Garotos que chegam cansados e suados em casa e que precisam de nós para que lhe demos o que comer. Garotos que brincam com seus filhos como se tivessem idade próxima, garotos que querem brincar conosco, suas mulheres-mães, com aventuras pobres – com amantes que fingimos não saber da existência (e vice-e-versa) só para manter sua canalhice mimada intacta nos nossos braços.
Mulher tem o capeta no corpo. Já ouvi dizer que por trás de toda grande guerra houvesse uma mão feminina iniciando a discórdia. Só o d’abo sabe como mentimos. Mas nem sempre é por mal. Damos nosso peito vazio, seco para que mamem. Seco por causa dos tempos de guerra – guerra entre mais garotos teimosos que brigam pelos melhores postos, lugares, coisas de homem. São garotos brincando de lutinha de espadas que deveiam ser de madeira, ceifando com força a vida de muitos, enquanto concebemos nossos filhos para a nação em nosso quarto. Guardamos para nós o segredo da vida. E é mentindo, alienando a criança de seu leite, que sangramos nossa seiva. Os dentinhos cavam mais fundo na nossa carne pelo alimento e guardamos o grito de dor para um garoto crescido.
Nascemos para ser fortalez de tantos pedidos e necessidades. De demandas infantis. Vejo mulheres fortes nas ruas, mulheres que perto de seus maridos escondem sê-lo, mas deixam a marca indelével na mente de seus filhos, para que nunca esqueçam a natureza real por detrás das coisas da vida. Vejo Capitus, Helenas de Tróia, Cleópatras, Anas e Marias Bolena, Catarinas de Aragão. Vejo mulheres que renunciam de si e que fazem ouvir-se, cada qual a seu tempo... – e respirou fundo, absorta.

O psicanalista segurava o papel e caneta por hábito, pois nada anotara.
--Você acha que um dia vai ser diferente, Dr. Downs? – ela olhava pela janela. Downs não respondia, estava ocupado demais digerindo suas reflexões e as formas de seu corpo harmonicamente feminino e curvilíneo contra a luz.
-- Em casa, deixo meu marido dar a última palavra. Acho que vai ser sempre assim, na verdade. Digo, não somos meros apêndices dos homens – somos nossas, muito nossas -, mas é esse o nosso papel para com eles. É por isso que gostam de nós. De todo modo... – delongou-se, pensativa – é hora de ir, doutor. – disse, pegando a bolsa ao se levantar – Foi um prazer. Até a próxima.
-- Perfeitamente, - respondeu ele, inutilmente levantando-se para lhe abrir a porta.
Pegou, pois, um charuto e pôs-se a pensar, fumando. Afastou o charuto e olhou-o com desconfiança.
-- Maldito seja Freud.

Vitória e derrota sob o Sol

Pegou a arma, sem o absurdo que seria pedir permissão, e escondeu na mochila. Saiu de casa correndo, dizendo que já voltava.
Mentiras, um mundo de sombras construído de mentiras. De tal modo que até mesmo sua visão era turva, os objetos flutuavam ao redor de sua trajetória em velocidade e os fatos seguiam desconexos. Escondia um pouco – o necessário – de cada um, até duvidar do que havia dito e para quem. Não se afirmava por diário: sua realidade era escorregadia. Não lhe apeteciam diários, de qualquer forma.
Poucos – na verdade, ninguém – compreendiam porque remoia tanto o passado. É para que, se um dia confrontada com o que fizera ou deixara de fazer, não se traísse, não fraquejasse na e diante da incerteza. Mastigava os fatos e assim legitimava seu comportamento andarilho.
E corria. Enquanto corresse, pensaria nisso e aonde ir. Lembrou-se de seu segundo lar, a escola do ensino infantil e fundamental. E lembrou-se também, ao parar ofegante na esquina, de que pensava tanto no passado pelo mesmo motivo que a trouxera ali: o passado lhe era caro, sim, em todos os sentidos.
No seu passado, gastara-se. Esbanjara sentimentos, lágrimas, suor, saliva. Marcas de expressão eram o que de mais duradouro havia recebido em troca. Devia seu olhar cansado a elas – e a partir desse era possível ler o que se quisesse ler no resto do corpo, na postura arcada ou ereta. Ainda assim, só podia se agarrar ao passado – sua realidade se estruturava sobre o que um dia já fora realidade. A certeza dos dias passando, do cabelo crescendo, do sol que circunda seu mundo pessoal, dos lábios das pessoas se mexendo e os ecos eternos que geravam...
Não havia deus, havia fatos – e esses podiam ser extenuados em sua graça por uma busca completa, obsessiva pela verdade. A verdade, que se esconde na opulência dos nossos gestos, nos labirintos dos lábios e das perfídias que proferem... Não havia o que não escrutinasse com impaciência.
Deixou-se cair, exaurida, no chão de concreto e encostou-se no muro. Gramíneas repousavam em paz à direita, do mesmo lado em que o sol se punha, atravessando com um raio sua visão periférica. Isso incomodava-a de vez em quando. O muro no qual estava encostada era o do colégio. Se a infância é mesmo um lugar, teria um pedaço daquele chão, daqueles edifícios, do rejunte entre as lajotas. E para sempre estaria ali, com seu nome escrito em alguns tijolos, como se isso tudo bastasse para lhe fazer eterna.
Pois bem. Fugira de casa, com uma arma na mochila. Sentia-se afundar no chão, queria afundar no chão peloamordedeuscomoqueria. Pegou a arma, trêmula, para fazer o que tinha que fazer, o imperativo categórico que lhe soprava o vento no ouvido.
Uma última vez, quis lembrar. Tomada de um vazio completo, esquecera do passado no qual tanto se agarrava – esquecera o nome, de onde vinha e pra onde ia. Abriu os olhos, em busca cheia de agonia. Seu olhar correu os paralelepípedos do estacionamento morto, a mão e o braço com a arma iam relaxando... Recordou de um som, que o vento ajudava a trazer. Recordou a mão calejada; o peso de cinco quilogramas de sua lira (um metalofônico afinado) distribuído pelo talabarte; a marcha insuportável e a postura ereta que só os pedantes conseguiam manter. Aprendera, sim, a mantê-la. A gota de suor que percorria sua espinha abaixo, os gritos do maestro – tudo arquivado. O maestro, é claro, sempre estava certo e, por mais que queimassem sob o sol antes – dias antes – do concurso, teriam de fazer tudo de novo. Recordou-se que o diagnóstico do maestro era ruim. Não ganhariam. Não dessa vez... “Não dessa vez”, repetiu em voz alta.
E na mesma noite, limpara seu instrumento até que brilhasse novamente. Limpara cantando as notas, ritualizando seu sacrifício com o som dos atabaques, pratos e fuzileiros nos ouvidos, compadecendo-se e compartilhando da dor da derrota eminente da fanfarra.
“Não dessa vez, eles diziam...” Reergueu o braço e a mão, revigorada por aquelas memórias de quando lutava inocentemente por alguma coisa, qualquer coisa. “Mas eles estavam errados. Nós marchávamos e ensaiávamos para ganhar, então nós ganhamos.” Suspirou. “Eu estava lá, eu levantei aquele troféu, nós ganhamos. Eu sei que sim.”
E aconteceu.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Fica entre nós.

Comemos - e há uma mesa entre nós.
Estudamos - e há muitos livros entre nós.
Nos conhecemos - e há amigos entre nós.
Nos casamos - e há uma multidão entre nós.




Nos amamos - e nem assim estamos sós:



há carne demais entre nós



E nossas

almas.

No sofá da sala

Um laço de compreensão infinita que se dissipa,
Uma chuva de verão que se esgota -
E mesmo que feita para acabar,
Nos abandona, perplexos.

Status quo

E tudo o que todos dizem é que estou exatamente onde deveria estar.
E é isso que me mantém coesa.

Desconhecido

Meu amor é só uma parte de mim
que ainda não me conhece.
Introduzo-me paulatinamente
em seu coração
para que comece me amando do princípio.

Lúcifer

Te pensei verdade-absoluta
para iluminar o meu caminho tempestuoso
E teu raio de sol me fez virar
A cara que nem tapa.

Fidúcia

Nada me compra essa sensação
De ter certeza no que defendo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Um bater de asas, um furacão aqui

Vejo com pouca clareza. Bate no meu peito, no entanto, um motor cardíaco mui semelhante ao vosso e que padece também pelo que não vejo, que sente o impacto até do pouso do lepidóptero menos desajeitado do mundo.

Nove de Fevereiro de 2011

Desaprendi a escrever para outra pessoa que não você. Isso ocorreu certamente porque chegou o momento em que eu fiquei profundamente mergulhada num sentimento atroz da mais pura adoração. Só era bom o que era parte de ti e o era duas vezes mais. Primeiro porque você era inigualável. Segundo, porque o que te integrava possuía o ser meu também - de repente, TODO o seu ser me pertencia, não propriamente a mim,mais a minha veneração, ao meu altar pessoal.
Foi então que desaprendi a escrever at all. Ocorreu que se tornou tão natural a mim que me integrava. Era necessário olhar ao espelho para ver-te e como me sufocava pensar em te perder! Deixei de escrever porque, nesse estágio avançado de minha doença crônica. não era mais necessário que eu me comunicasse. Ou assim julguei. Julguei que esse amor já não encontrava significação na linguagem mortal. Julguei e sonhei com uma eternidade feliz que certamente não me pertence.
Quando arrancou seu pedaço do meu pedaço foi como perder minha versão tátil do paraíso.
Então, desaprendi a amar...

Antologia de Nada

Venda sua alma, escritor.

Vá cometer um sem número
de depravações poética$.

Nunca Resignada

Não, não te idealizo.
(Conheço-te de verso e
de transverso,
Longitudinalmente se o preferir.)

Não, não estou chocada.
(Há de se aceitar, por força,
Que a vida é cheia de ciclos.
Além do mais, sei perder.)

E não, não te ouço
quando você diz que não te sensibilizo mais.
(Minha poesia viveria, sim,
sobreviveria, melhor dizendo,
Mas não pode haver fortaleza sem brecha
Entrada secreta que seja
Ou aríete que não escancare os portões.)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Persona

Você partiu em sua esquizofrenia,
completa Alice,
Encontrar um Dom Quixote
E outros heróis em escândalo total.

Personagem de livro,
te inventei num ato eufórico.
Você saiu das minhas páginas
E confirmou as predições de um Tirésias qualquer:
Eu te inventei pra me machucar.

Passada a euforia criativa,
A alegria criadora,
Volto aos meus dias só pra constatar
que dei vida efêmera
A um ser feito de palavras,
palavras escritas com nanquim,
arranhadas com bico de pena,
Palavras duradouras.

Ciência Empírica

Nossas bocas vazias se uniram
E formavam um único ser
feito todo de vácuo.

Fizemos uma ciência empírica
Recheada de jogos
para passar o tempo.

Sim, insistíamos nos erros
só pra ver no que ia dar.

e todos nós acabamos
violados pelo vício,
aterrados pelo medo,
consternados pelo vácuo.

(Nosso pequeno monstro se
voltara
contra
nós.)

03/05/11

Conto de terror

O gosto do novo
Era ansioso,
Era todo insonso.

Olhares frequentes
Para que então se torne urgência.

É, pois, que nossos caminhos se tornaram
Trilhas conhecidas
Ainda que eu precisasse de ajuda
Para não nos perder.

E foi tanta a familiaridade,
que partimos para o velho hábito -
Com que honestidade nos conhecíamos.

Dê dinheiro, mas não dê intimidade:
Sem aprender, foi assim que nos enclausuramos
Em pequenas celas,
Mas que estavam em grandes torres,
Guardadas por muitos dragões.

Assim, não havia herói que aguentasse.

03/05/11

Sem Caixinhas de Música

Esquece essa tua valsa de amador,
Desfaz esse teu feitiço inerte.

Eu cometo meus grandes feitos
de cara limpa
E eu me intrometo
sim
na sua
Preciosa vida.

Beijo

Nos lábios que eu beijo
só não encontro os seus.

Outono 2011

A partida
foi dolorosa,
A partilha
foi tão custosa.



E não sobrou nada
de que pudéssemos nos gabar.

Hiperventilado

Me chamo vento. Sou leve. Beijo seu rosto sem pretensões – e se existem são aéreas. Sou brisa suave entre seus dedos, faço pressão nos seus lábios. Te envolvo a cada passo, desisto de promessas porque não há mais rota... faço a curva em teus ombros. Sim, estou sempre contigo, moldo-me em seus atos, porém permaneço intocável.

Se fechas a mão, esvaneço por entre seus dedos. Abre-a e me terás novamente. Estapeie-me e me recomporei tão rápido quanto se movimentares. Completo suas inseguranças e imperfeições, sustento-te quando achas que ninguém te apóia.

Me chamo vento, sou efêmero. Sou essencial a sua respiração, sou teu ar em movimento. Me chamo vento. Me esquecerás tão depressa quanto se lembrares de mim. E ainda que se esqueça, precisará – e muito –, logo, ainda assim estarei contigo. Me chamo vento e meu mal é ser invisível.

Egolatri(n)a

Seu ego será capaz de criar provas incontestáveis...
Sobre QUALQUER coisa.

Juros

O dinheiro é a medida através da qual o tempo começa a fazer sentido.

XV de Novembro

E antes que você perceba
nós faremos o mundo colidir
com seus planos pessoais.

E você sentirá que
vale tanto quanto
as pedrinhas
da calçada da XV.

Standard

Meus longos grandes olhos pidões
Refletindo apenas o estado padrão
Da minha consciência.

Dois segundos e uma reflexão

Me olho no espelho,
Só para ter certeza
De quem sou.

Mas dessa vez me olhei no espelho
E não era eu.

No ponto de ônibus, o mudo nos sorriu
E fez entender que (seu) deus sorria também.

Voltei, nauseada,
e restaurei meu caos harmônico.
Mas olhei no espelho
e eu tinha muitas rugas -
envelhecera dez anos talvez -
e, não,
não era eu.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Força maior

Você não esquece quando aprende que só tem a si mesmo
E que a matéria se decompõe igual
Em qualquer lugar.

Morte presumida

Foi comprar cigarros
Nunca mais voltou.

Voltei a escrever tão logo te ausentastes.

Mártir dos nossos tempos

Sacrifício é hábito
Quando cotidiano.

Vigília

E não mais dormi depois que abriram meus olhos.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Cônjuge não é parente

Celebrei um contrato de mãos apertadas
E sorriso estampado.
Era olho-no-olho,
Assinei sem ler.

(Mas era em fonte dez, Times New Roman,
Que o confesso declarava a verdade
Não vinda de outros lábios.)

Quando fui reler o contrato,
Então assinado,
Manipulei aquela gramática escorregadia
Prima facie amorfa e abstrata
Que se adequadava à hermenêutica que vinha por interesse.

Inaudita mea parte,
Gratia argumentandi a grosso modo
,
Estendi as mãos
E perdi os anéis para não perder os dedos,
O orgulho para não perder o amor.

Havia assinado, ora essa!, o contrato mais infame da minha vida.
Um contrato vitalício se de boa-fé,
Bilateral, oneroso e aleatório por definição.
Devia ser paritário, mas as cláusulas já estavam postas!
Aderi esperando que a interpretação me seria favorável, afinal.

Dou-me conta apenas com o representante da Lei
No animus jocandi,
Dizendo: "beije-a! Beije a noiva."

Loucura, vossa Excelência!,
O contrato era matrimonial.

Humor negro:

Estou honrando constantemente esse legado.

Por onde estive

Quando estiver me procurando -
Se algum dia chegar a fazê-lo
-, procure-me onde fizer sentido.

E onde não fizer também, pronto!

Que diabo de obrigação é essa que eu tenho de seguir
Só pra ser coerente, consistente, conivente?!

Estarei onde devo estar, estando bem e de graça
Que mal tem?
Agora mesmo, saiba, estou bem e quase de graça
Num lugar seguro
E quentinho:
lar!

Capricho

Eu não tenho dúvidas de que você testa
Esse pouco de sanidade que me...
Sobra.

Natus Mortus

Todas as nossas crianças não nascidas,
Nossos abortos espontaneamente
Dirigidos,
Dirigidamente espontâneos...

Uma nação de natimortos!
Desconfio, logo existo.

Terra e Paraíso: dois pesos e duas medidas

Bons tempos aqueles nos quais
Bastava seguir os dez mandamentos
para ser alguém reto, justo.

Hoje, mesmo sujeitos a tantas hermenêuticas,
os Códigos Civil e Penal não dão uma brecha!

Se quer ser moral, arranje um bom
Advogado.

Antitético

O diabo é um mero recurso retórico;
Um tecido necrótico sob o ponto de vista cristão,
Mas essencial para dar aquele estímulo a mais
Para ser um bom arrebanhado.

O abraço largo

Quanto mais rápido o poema,
Mais sincero ele é.
Até porque não precisamos de muitas palavras para significar muito:
A abragência se dá pelo não-especificado.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Violenta

O meu quarto tem cortinas violetas
O meu quarto está violeta
O mundo inteiro está se violetando.

Folha de Outono

Não tenho sido a pessoa mais sensata do mundo: tenho te amado.

euróneia

Por favor,
agora me diga tudo o que eu preciso ouvir de você pra ser enrolada de novo.

Piggy

Aprenda comigo,
porque este ensinamento tem caráter teórico:
uma vez que você tenha mergulhado as mãos na lama,
Vai querer chafurdar lá até a alma.

Meus caminhos

O maior caminho é o do desconhecimento:
Tudo é perto
quando se sabe como chegar lá.

Metalinguagem

Só sei que não sei nada,
Nem posso querer ser algo
Nem me restam todos os sonhos do mundo.

Dia-a-dia

Meu dom é não durar mais que o eco das minhas palavras
E por todo o resto do tempo mensurável ainda estar na sua memória.

Premonitório

Todos os nossos beijos seguintes foram iguais ao nosso primeiro beijo: você nunca soube o que fazia ali e eu só precisava que estivesse.
Você não pode competir com um morto.

Negligente

Pode ser que até então você tenha se deixado levar, se omitindo constantemente
Pode ser que até então suas escolhas tenham sido feitas sob medo e pressão.

Mas agora que eu te alertei,
Pare de ser covarde.

Sem óculos

vivo nesse isolamento
que eu gosto de confundir com liberdade.

...
agora confessem que vocês ainda não me conhecem.

Confessional

Muitas vezes - quase sempre, na verdade - me custa muito explodir logo de cara.
Vou indo devagar, apreciando a derrocada, quase gostando do infortúnio ou dos maus tratos que sucedem o primeiro tapa. Com os olhos já no verde jade ou no azul real, vou cavando um lugar na consciência, um abrigo protetor qualquer que ao menos comece me escorando de qualquer culpa.
Então, vou me calando. Raramente choro com a obscenidade dos soluços, porque não sou mulher disso. Vou chorando no silêncio mesmo, que é mais amargo. Como não explodo de uma vez, pequenas estruturas vão implodindo em mim. Há algo nos joelhos que faz as pernas bambearem, que me faz tropeçar no vento. Algo nos pulsos que me tira a força, na face, que me remove a expressão e transfigura da calma asfixiante de outrora.
Estou num barquinho a deriva na tempestade dentro dos meus olhos de mar que ardem de sal.

Paternon

Nada meu ficará para a alteridade: meus templos ruíram,
coluna a coluna,
ícone por ícone
E foi me faltando a fé,
o fundamento.
Ficaram fendas, fissuras,
Faltas.
O sopro da vida, dos dias, do tempo
Desgastou-me enfim.

Advogado do Diabo

A verdade é um esforço débil: haverá sempre um jeito de santificar os mortos.

Anos de Distorções

Quando tudo der errado, pense num conto dos irmãos Grimm. Originalmente, eles não deveriam terminar bem também.

Napolitano

-gosta mais de qual sabor: morango, baunilha ou chocolate?
-eu acho que gosto mesmo é de problema.

Mais sorte que juízo

Montanhas-russas
no máximo te levam ao mesmo lugar.

Isso não é vida.

Ímpeto Juvenil

Aos 17 anos, minha vida mudava drasticamente
Todos os dias.
Meu matiné tá sempre aberto pra você.

Quarta-feira de Cinzas

Depois do Carnaval, vem a Quaresma, amiguinhos:
40 dias no deserto com o diabo.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Nominal

Quantas vezes eu preciso escrever o meu nome para passar a gostar dele?
A gente sempre encontra a oportunidade de correr atrás da encrenca.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Todas as minhas instituições públicas decadentes. Bem, públicas do jeito que eu gosto. A decadência a gente suporta.

Inflação do Bon Vivant

O valor do teu respeito desvalorizou
E não vale mais do que o meu carpe diem.

Diálogo

Aquilo que começardes terás de acabar, disse deus.

Seja o primeiro, senhor, disse eu.

Te Deum

Para acreditar em deus é necessário gostar de sua obra e tudo o que ela te faz engolir.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Condescendente

Um dia, eles vão embora.

Abram-se os parênteses

Parei pra pensar e descobri que só sei amar a ti. Só sei amar desse jeito violado e violento, desse jeito que arrebata corações. Só sei amar aos teus gestos cruéis e com uma dor tão familiar que não mais a estranho. Só entendo fazer as coisas do jeito que você gosta. Esqueci sumariamente como se ama aos outros.

Sinceridade

E tá aí uma relação que, até então, eu não me atrevia a fazer.

Esporro

Cala a boca e senta aí no canto que você ainda vai ter muito tempo pra pensar no que fizeram de ti sem o teu consentimento.

Um suspiro por vez

Daquela vez não era jogo.
Daquela vez era sério.

Ensinamento

Edificar-me-á com tua torridez, amor.
Outras tantas mil serão minhas recomendações desesperadas.
E não há lar pra voltar.

Epitáfio

Estarei lá, nos melhores dias da sua vida.

Caçar com o gato

Se te sobras apenas a mortalidade, fazei disso teu maior dom, alívio e fortaleza.

Probabilidades

99% de chances de me frustrar e pela primeira vez em anos me encanta o 1%.

Biblioteca pessoal

Alguém, por favor, extingüa esses cupins e traças antes que roam toda a minha Alexandria, todos os meus escritos, todo o meu todo.

A Evolução da Humanidade*

Safando a própria cara há 450 milhões de anos.


*Título opcional: "Humanidade:".

Centelha

Um dia você me amou
E muito pouco desse fato me foi dito.

Sobraram só as cinzas da tua paixão crepitante e ardente.

Suas linhas

Você acaba de me dar literatura pra vida inteira.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Banho de Lama

Diante de um fim de dia, com as mangas arregaçadas,
Haverá sempre a saudade de quando era tudo mais simples.

Desejará um retorno gradativo
à composição orgânica da qual viemos.
Lembrar-se-á disto ao meter as mãos na lama
Da qual somos feitos e da qual temos, afinal, nos envergonhado.

Da impureza à impureza, atravessando a impureza notável dos seus atos,
Notarás sua natureza animal, sua existência instintiva.
E se arrependerás, como regra.

Suor

Com todo o teu gasto de saliva,
derramei uma lágrima e
Fui lentamente caindo.

Fui lentamente suando (as lágrimas transfiguradas - água salgada é tudo a mesma coisa) ao caminhar às pressas na rua,
Fui lentamente tragada pra dentro dos teus olhos
e lentamente tragando contigo o cigarro, seguindo a rota própria da fumaça...

Fui lentamente tropeçando,
decrescendo,
enlouquecendo,
afundando
consternada.
Fui me perdendo, decaindo, agonizando,
vivendo uma confusão de amor infinito.

Consternada (essa é a palavra),
fui caindo. Decaindo. E lentamente.

(Cheguei em casa, ainda consternada,
e torci a camisa do suor adquirido. E eu, consternada,
vi o suor pingando.
Pingando.

Caindo.)
Confiei desconfiando
mas carinho era moeda de troca.
E
toda
essa perda de dignidade,
que é de
prache.

Desafio

É deveras óbvio que não se pode chamar o aborto expontâneo de suicídio pré-natal, mas o que pensar de um cordão umbilical enrolado na garganta?
Lia livros porque as citações realmente valiam a pena.

Pedindo no sinal

Conquistai algo pra ti com teu próprio suor.
Quero esse lugar desabitado em ti.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Cotidiano

uma triste consciência do meu estado.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Literatura Contemporânea

Ela seduz com quatro ou cinco linhas no máximo, sem nem perceber.
Sem cor, sem cheiro, sem som.

Você pisca e já gosta.

Externo

Minha alma, finalmente liberta do corpo - obrigação terrena -, foi passear co' a tua no canteiro de flores no meio da avenida.

Em reforma

Por fora, um edifício imponente.
Por dentro, uma estrutura decadente.

O problema é que...

eu gosto da idéia da danação eterna. Faz-me pensar que já não importa o que eu faço: deus me ama menos que Jesus, seu filho predileto.
Amor, um sadismo milenar.
O erro é o fundamento da humanidade.
Amor só se explica como erro de percurso.
Honra: água do ego.

Lição do Ponto de Ônibus

Não é porque o sol não foi encoberto que não vai chover.
Acima de todas as suspeitas, estou triste porque sou triste.

Do uso dos anticoncepcionais

Um filho protelado não é um filho abortado.

Adeus sem despedida

Nosso amor que não foi: um filho abortado.

Dos cemitérios

Esse é o propósito de ir a um cemitério, meu amigo. O mundo dos vivos não vai te perguntar porque está chorando. O mundo dos mortos não vai espalhar que não é por ele que tu choras.

A Minha Palavra

E no terceiro
dia ressuscitarei
como se nada
tivesse
acontecido.

Do estilo

Um estilo conciso e àspero
De sentimentalismos abstratos.

Um estilo das engrenagens,
Dos estampidos das armas.

Foi esse estilo com o qual sonhei
Barulhento em todo seu silêncio,
Enquanto sou silenciosa em meio ao barulho que me transpassa.

Amor sem Fronteiras

Conhecer-te é uma hecatombe dos sentidos. É estar firme e intimamente conectada a tua pele, impregnada de ternura e malícia. Conhecer-te é ato sacro que vicia.
Serás eternamente a criança que quer brincar de roda. (...) No teu girar há náusea e prazer. No teu girar há vida pra ser degustada.
A idéia de que durante esse giro nos fundamos e passemos a integrar o mesmo ser, passamos a ser componentes essenciais da mesma constituição básica molecular nos assusta e nos põe peito contra peito, alma contra alma. Duas crianças admiradas, espantadas com a falta de fronteiras entre todo o seu mais íntimo ser.
Olhamo-nos no espelho, com nossas fissuras, nossas partes faltantes. E sobre os nossos ombros residiu a promessa: "não me magoe".

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Oscar Falsificado

E esse vai para a parte da minha alma que já não encontro mais!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Vitória de Pirro

Uma conquista sem brilho,
Um sonho sem luz.

Mais uma dessas...

Tormenta

De tudo, só não me peça pra fazer sentido completo
Enquanto a confusão se instaura.

Meus caminhos são tortuosos,
Minhas razões são inescrutáveis,
Minha fortaleza é insondável.

O mar está por dentro
Dos meus olhos.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Quando você sabe que não vai durar.

Um belo dia - por algum motivo
é sempre dia claro nesses casos -
você abre a janela ou um pote

de pêssegos em calda, ou mesmo um livro
que nunca há de ser lido até o fim
e então a idéia irrompe, clara e nítida:

é necessário? Não. Será possível?
De modo algum. Ao menos dá prazer?
E será prazer essa exigência cega

a latejar na mente o tempo todo?
Então, por quê?
(E nesse exato instante você por fim entende, e refestala-se

a valer nessa poltrona, a mais cômoda
da casa, e pensa sem rancor:
perdi o dia, mas ganhei o mundo.

Mesmo que seja por trinta segundos.)

Amigos

Se tudo correr bem, também a tua derrota vai ser de bom tamanho. Conta comigo.

Messias forasteiro

O mundo é teu. Toma aí, pode pegar. Entra, a gente não morde.
(...)
E então? É pra viagem ou vai comer aqui mesmo?

Surreal

Estás sentada à janela
Ou a beira do abismo.

Aguarda definição impaciente
Enquanto deixa estar, deixa sorrir.

Naufrágio

Olhos de mar que ardem do sal que contêm,
Quando voltarás ao continente?

Olhos que abarcam um desafio maior,
Toda a ânsia da sua vida pregressa veleja em alto-mar.
Não há peixe que não se incomode
Com sua passagem ousada, intrépida,
Mas destinada ao eterno morrer na praia.

Olhos de sangue que ferve,
Diz-me ao ouvido:
quem tu odeias?
O ódio liberta.