quinta-feira, 28 de julho de 2011

O Trambique

Um dia, M. se sentiu diferente. Acordou sabendo as horas, passou sua camisa impecavelmente, deu carinho a sua mulher e foi para o trabalho.
No caminho, chegou na hora para o ônibus e sentou-se do lado de um belo par de coxas e saltou no ponto final sem pisar na lama e não se atrasou.
Sorriu a secretária do chefe, bateu na porta da sala do chefe, ganhou abraço e cafézinho do chefe e começou a coisa do jeito certo: sentado no seu lado da mesa do chefe.
Eis que discutiam o desempenho da noite anterior - a final do campeonato do time do chefe, que passara a ser seu time. E com sua sabedoria recém-adquirida, procedeu de tal modo a crer que ganharia mais que um abraço do chefe a partir do começo do mês: um aumento. Sim, do chefe.
Começou rindo largo o desempenho do colega, A., promovido semana passada. Aumentou e promoveu também sua TV 40' para um home teather muito moderno, seu carro popular para um esportivo, sua noiva para esposa. Atacou, esquivo, pelo flanco direito, as pintagas que chorava sua mulher vendendo roupas - e nisso tudo o chefe concordava e cria. Foi quando tentou driblar a zaga e chegar nas vias de fato que percebeu que, honesto, era muito capaz no que fazia, mas sempre seria insuficientemente pilantra acerca de quaisquer pilantragens.
A., seu comparsa na semana anterior, era também seu Judas. O chefe esperava somente a justa causa.

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