Celebrei um contrato de mãos apertadas
E sorriso estampado.
Era olho-no-olho,
Assinei sem ler.
(Mas era em fonte dez, Times New Roman,
Que o confesso declarava a verdade
Não vinda de outros lábios.)
Quando fui reler o contrato,
Então assinado,
Manipulei aquela gramática escorregadia
Prima facie amorfa e abstrata
Que se adequadava à hermenêutica que vinha por interesse.
Inaudita mea parte,
Gratia argumentandi a grosso modo,
Estendi as mãos
E perdi os anéis para não perder os dedos,
O orgulho para não perder o amor.
Havia assinado, ora essa!, o contrato mais infame da minha vida.
Um contrato vitalício se de boa-fé,
Bilateral, oneroso e aleatório por definição.
Devia ser paritário, mas as cláusulas já estavam postas!
Aderi esperando que a interpretação me seria favorável, afinal.
Dou-me conta apenas com o representante da Lei
No animus jocandi,
Dizendo: "beije-a! Beije a noiva."
Loucura, vossa Excelência!,
O contrato era matrimonial.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Por onde estive
Quando estiver me procurando -
Se algum dia chegar a fazê-lo
-, procure-me onde fizer sentido.
E onde não fizer também, pronto!
Que diabo de obrigação é essa que eu tenho de seguir
Só pra ser coerente, consistente, conivente?!
Estarei onde devo estar, estando bem e de graça
Que mal tem?
Agora mesmo, saiba, estou bem e quase de graça
Num lugar seguro
E quentinho:
lar!
Se algum dia chegar a fazê-lo
-, procure-me onde fizer sentido.
E onde não fizer também, pronto!
Que diabo de obrigação é essa que eu tenho de seguir
Só pra ser coerente, consistente, conivente?!
Estarei onde devo estar, estando bem e de graça
Que mal tem?
Agora mesmo, saiba, estou bem e quase de graça
Num lugar seguro
E quentinho:
lar!
Natus Mortus
Todas as nossas crianças não nascidas,
Nossos abortos espontaneamente
Dirigidos,
Dirigidamente espontâneos...
Uma nação de natimortos!
Nossos abortos espontaneamente
Dirigidos,
Dirigidamente espontâneos...
Uma nação de natimortos!
Terra e Paraíso: dois pesos e duas medidas
Bons tempos aqueles nos quais
Bastava seguir os dez mandamentos
para ser alguém reto, justo.
Hoje, mesmo sujeitos a tantas hermenêuticas,
os Códigos Civil e Penal não dão uma brecha!
Se quer ser moral, arranje um bom
Advogado.
Bastava seguir os dez mandamentos
para ser alguém reto, justo.
Hoje, mesmo sujeitos a tantas hermenêuticas,
os Códigos Civil e Penal não dão uma brecha!
Se quer ser moral, arranje um bom
Advogado.
Antitético
O diabo é um mero recurso retórico;
Um tecido necrótico sob o ponto de vista cristão,
Mas essencial para dar aquele estímulo a mais
Para ser um bom arrebanhado.
Um tecido necrótico sob o ponto de vista cristão,
Mas essencial para dar aquele estímulo a mais
Para ser um bom arrebanhado.
O abraço largo
Quanto mais rápido o poema,
Mais sincero ele é.
Até porque não precisamos de muitas palavras para significar muito:
A abragência se dá pelo não-especificado.
Mais sincero ele é.
Até porque não precisamos de muitas palavras para significar muito:
A abragência se dá pelo não-especificado.
quinta-feira, 10 de março de 2011
Violenta
O meu quarto tem cortinas violetas
O meu quarto está violeta
O mundo inteiro está se violetando.
O meu quarto está violeta
O mundo inteiro está se violetando.
Piggy
Aprenda comigo,
porque este ensinamento tem caráter teórico:
uma vez que você tenha mergulhado as mãos na lama,
Vai querer chafurdar lá até a alma.
porque este ensinamento tem caráter teórico:
uma vez que você tenha mergulhado as mãos na lama,
Vai querer chafurdar lá até a alma.
Metalinguagem
Só sei que não sei nada,
Nem posso querer ser algo
Nem me restam todos os sonhos do mundo.
Nem posso querer ser algo
Nem me restam todos os sonhos do mundo.
Dia-a-dia
Meu dom é não durar mais que o eco das minhas palavras
E por todo o resto do tempo mensurável ainda estar na sua memória.
E por todo o resto do tempo mensurável ainda estar na sua memória.
Premonitório
Todos os nossos beijos seguintes foram iguais ao nosso primeiro beijo: você nunca soube o que fazia ali e eu só precisava que estivesse.
Negligente
Pode ser que até então você tenha se deixado levar, se omitindo constantemente
Pode ser que até então suas escolhas tenham sido feitas sob medo e pressão.
Mas agora que eu te alertei,
Pare de ser covarde.
Pode ser que até então suas escolhas tenham sido feitas sob medo e pressão.
Mas agora que eu te alertei,
Pare de ser covarde.
Sem óculos
vivo nesse isolamento
que eu gosto de confundir com liberdade.
...
agora confessem que vocês ainda não me conhecem.
que eu gosto de confundir com liberdade.
...
agora confessem que vocês ainda não me conhecem.
Confessional
Muitas vezes - quase sempre, na verdade - me custa muito explodir logo de cara.
Vou indo devagar, apreciando a derrocada, quase gostando do infortúnio ou dos maus tratos que sucedem o primeiro tapa. Com os olhos já no verde jade ou no azul real, vou cavando um lugar na consciência, um abrigo protetor qualquer que ao menos comece me escorando de qualquer culpa.
Então, vou me calando. Raramente choro com a obscenidade dos soluços, porque não sou mulher disso. Vou chorando no silêncio mesmo, que é mais amargo. Como não explodo de uma vez, pequenas estruturas vão implodindo em mim. Há algo nos joelhos que faz as pernas bambearem, que me faz tropeçar no vento. Algo nos pulsos que me tira a força, na face, que me remove a expressão e transfigura da calma asfixiante de outrora.
Estou num barquinho a deriva na tempestade dentro dos meus olhos de mar que ardem de sal.
Vou indo devagar, apreciando a derrocada, quase gostando do infortúnio ou dos maus tratos que sucedem o primeiro tapa. Com os olhos já no verde jade ou no azul real, vou cavando um lugar na consciência, um abrigo protetor qualquer que ao menos comece me escorando de qualquer culpa.
Então, vou me calando. Raramente choro com a obscenidade dos soluços, porque não sou mulher disso. Vou chorando no silêncio mesmo, que é mais amargo. Como não explodo de uma vez, pequenas estruturas vão implodindo em mim. Há algo nos joelhos que faz as pernas bambearem, que me faz tropeçar no vento. Algo nos pulsos que me tira a força, na face, que me remove a expressão e transfigura da calma asfixiante de outrora.
Estou num barquinho a deriva na tempestade dentro dos meus olhos de mar que ardem de sal.
Paternon
Nada meu ficará para a alteridade: meus templos ruíram,
coluna a coluna,
ícone por ícone
E foi me faltando a fé,
o fundamento.
Ficaram fendas, fissuras,
Faltas.
O sopro da vida, dos dias, do tempo
Desgastou-me enfim.
coluna a coluna,
ícone por ícone
E foi me faltando a fé,
o fundamento.
Ficaram fendas, fissuras,
Faltas.
O sopro da vida, dos dias, do tempo
Desgastou-me enfim.
Anos de Distorções
Quando tudo der errado, pense num conto dos irmãos Grimm. Originalmente, eles não deveriam terminar bem também.
Napolitano
-gosta mais de qual sabor: morango, baunilha ou chocolate?
-eu acho que gosto mesmo é de problema.
-eu acho que gosto mesmo é de problema.
Quarta-feira de Cinzas
Depois do Carnaval, vem a Quaresma, amiguinhos:
40 dias no deserto com o diabo.
40 dias no deserto com o diabo.
Assinar:
Postagens (Atom)