sexta-feira, 18 de junho de 2010

Estremecimentos da alma

vovó se foi.
mamãe vai chorar.

Depressão e Hipocrisia

Irmãs na dúvida,
Irmãs na dívida.

É aqui no coração que o cinismo
Atinge o auge.

Nós trazemos a doença.

domingo, 13 de junho de 2010

X

As pessoas deviam morrer depois do seu primeiro amor: o que se segue é só desgraça.

Insegurança

Mas você vai ficar comigo, não vai?
Diz logo, que a boiada passa destruindo o que vem pelo caminho.
Você vai ficar comigo, não é mesmo?
Repete bem alto, eles querem ouvir
E eu ainda não acreditei.

Meu anjo, me diz
Se mesmo com o rosto assim,
Lavado de lágrimas secas,
Você me ama, porfim.

Me encontra todos os dias,
(ei, me abraça direito)
E se preocupa comigo
E canta pra mim.
Eu quero ouvir a sua voz
Hoje à noite.

Me faz perfeita, Rafael.
Me faz completa, Ezequiel.
Me beija, Gabriel.

Case comigo
uma vez
Case comigo
duas vezes
Se afaste de mim
três vezes
E a última será a morte.

A morena que vinha e ficou

Aquilo não era o Jaçanã do Trem paulista das Onze nem o Copacabana desagradavelmente rico e carioca, mas o bagunçado Andaraí. O guarda Freitas tinha problemas todos os dias, de todos os tipos. Seus ombros arcavam-lhe o ar e, em vão, ele estufava o peito para aumentar a autoridade.
O problema de hoje era a gente do Durval, que ainda não descarregara o maldito caminhão. Foi ao se virar para fiscalizar o andamento do processo que ele se deparou com a poesia de uma Ipanema que se materializava a sua frente. A morena que vinha e que passava atendia, merecidamente, por Capitu. Com megera elegância, conquistava toda aquela homarada que se aglutinava e pulsava ao seu redor.
Com Freitas, não foi diferente. Tudo nele era um suor seguido por leves tremores e ele escondeu as mãos nos bolsos. Capitu sempre soube da força brutal que exercia e, premeditadamente, ensaiou um virar de esquina, com o gingado do samba nos quadris. Contudo, estancou. Ao passo que conduziu Freitas com seu olhar, disse-lhe, em tom médio:
"Hoje o almoço vai demorar um pouco, bem."
Há mais de dez anos, era aquela a morena que vinha e ficava.

sábado, 5 de junho de 2010

Segunda Chance

Eu, que não tenho alma, considero mais as coisas do ser do que tudo.
Eu, que não tenho coração, vejo-o bater meu em outras pessoas.
Eu, que não tenho destino, vago por linhas bem torneadas.
E assim amarei, sem poder, mas amando.

Máquinas de Café

(Sugiro a leitura do poema com o acompanhamento da música. Faça como quiser.)






(A gasolina tem um odor maravilhoso,
Mas o orgasmo é o café.)




Nossos músculos são de aço
Contra o frio cortante.
Nossas vidas são só um passo
(abismo).

Nossos corações são todos blindados
E bem acabados
E polidos no esmeril.

Nossos modos são aristocráticos
Nossas mãos são tão cheias de anéis
que nos perdemos nos entrelaçares e nas contas,
Nossos olhares tendem ao nihil.

Nossa marcha é constante,
Nosso ritmo é frequente,
Nosso fogo é líquido em mil maneiras diferentes.

Nossas costas são disciplinadas quanto ao peso carregado,
Nosso passo não se perde.
Nossa direção é bem segura perdeu.
E nenhum de nós se

Nossas paixões são vidradas,
Nosso auxílio é a dependência,
Nossa vida é a permanência.
E cada vez que nós pensamos
É porque gostaríamos muito de esquecer.

Estamos recheados de coragem
Porque é assim que é quando não se tem
Mais nada a perder,
Só a vergonha.

Nossos amores são concentrados
E bem focalizados
Assim nunca esqueceremos
Seus rostos.

Quanto ao café que nos move
E nos faz cantar e versar
De face inexpressiva
Com uma batida de mil de nós
e nossos corações metálicos,
É esse o que nos põe em ordem,
De volta aos eixos.
É isso o que nos faz menos infelizes,
Mais criteriosos, mais urbanos...
É essa a poção mágica da verdade.
E assim, nós restaremos:
Os dois pés no chão
E os olhos de mercúrio caídos conosco.
Nós sabemos
que a noite é uma mera convenção.
Nós sabemos
que nascer é traumático: ter vindo ao mundo foi o nosso azar.
E nós pedimos um pouco,
Porque nossa ambição é pequena.
O destino foi lá e nos deu menos,
Então nós sorrisos com um sorriso amarelo e tomamos mais café.
Passou-se um tempo e tiraram de nós o que tínhamos,
Então gritamos e choramos e não nos ouviram, porra.
E assim nós restaremos:
Os dois pés no chão,
O café
E a batida de nossa música preferida ecoando através do chão.
Nós sabemos
que a noite é uma mera convenção
E que nossos cérebros são o motor
que nos leva à morte.