domingo, 13 de junho de 2010

A morena que vinha e ficou

Aquilo não era o Jaçanã do Trem paulista das Onze nem o Copacabana desagradavelmente rico e carioca, mas o bagunçado Andaraí. O guarda Freitas tinha problemas todos os dias, de todos os tipos. Seus ombros arcavam-lhe o ar e, em vão, ele estufava o peito para aumentar a autoridade.
O problema de hoje era a gente do Durval, que ainda não descarregara o maldito caminhão. Foi ao se virar para fiscalizar o andamento do processo que ele se deparou com a poesia de uma Ipanema que se materializava a sua frente. A morena que vinha e que passava atendia, merecidamente, por Capitu. Com megera elegância, conquistava toda aquela homarada que se aglutinava e pulsava ao seu redor.
Com Freitas, não foi diferente. Tudo nele era um suor seguido por leves tremores e ele escondeu as mãos nos bolsos. Capitu sempre soube da força brutal que exercia e, premeditadamente, ensaiou um virar de esquina, com o gingado do samba nos quadris. Contudo, estancou. Ao passo que conduziu Freitas com seu olhar, disse-lhe, em tom médio:
"Hoje o almoço vai demorar um pouco, bem."
Há mais de dez anos, era aquela a morena que vinha e ficava.

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