quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

no momento, meu mundo -

veja bem,

meu mundo inteirinho -

se resume a uma partícula de pó

orbitando no ar,

esperando.

irritando o nariz alheio e te fazendo espirrar o que sobrou aí dentro.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Os jagunços do Coronel

Os jagunços do Coronel chegaram devagar,
Já com o dia escuro
em vários veículos
Pra desapropriação.

Os jagunços do Coronel
estupram as mulheres,
matam crianças,
humilham os homens.

Os jagunços do Coronel
usam armas de aço,
punhos de ferro,
protetores de acrílico.
Vem de cima
um pássaro de metal.
A lei é o terror.
A ordem é a morte.
Esse progresso é o retrocesso.

Gritam uníssono,
os jagunços do Coronel.
São a tropa de elite,
a tropa de choque,
o osso mais duro de roer,
o bibelô do Governador.

E dentro do gabinete,
onde justiça não há e a luta não se vê,
assina-se o papel com sangue marginal.

28/01/12

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

De bico fechado

Calei. Certo dia, calei.
Calaram-se minhas vozes, pois não era unívoca. Calou-se papel e caneta nos meus dedos e esta escorregou e se perdeu. Por fim, calaram-se meus dedos diante da tela, central de informações corrente e cotidiana.
Calei como o infrator pego no ato, em flagrante. Calei como o professor diante do improvável naquela segunda fatídica de março. Calei como têm feito os chefes de estado sobre os problemas de conjuntura ampla.
Calei-me, no direito de só falar frente a um advogado. Mas podia ser um médico também - bem, qualquer homem gentil e inteligente... Não, não falaria nem mesmo frente a um homem gentil! Chega dessa palhaçada, ora essa.
Calei-me e nisso tenho ido bem. Porque calar é cômodo. Calar é óbvio. Cala aquele que não quer errar, tal a armadilha das palavras.
Em verdade, em verdade, vos digo calei quando tu voltou, filho pródigo. Porque, bem, era realmente muito possível que voltasses, entretanto, não pude fazer nada se não calar. Colei os lábios, relaxei a postura. Meu olhar cai, abandonado e reticente.
Não poderia, pois, jamais externar o que senti quando voltastes? Será proibido e punido coercitivamente?
Calei, sem mais. "Sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar", disse Wittgentstein.
Páginas em branco na minha agenda: do silêncio fiz nova poesia. Calada.

14/08/2011.

Mais sensata do que nunca

Me chamou de louca,
desvairada,
psicopata,
esquizofrênica,
mas não de amor.

Amor?! Qué isso!, amor NUNCA.

Vou considerar como um elogio: obrigada.

17/08/2011.

Homem ao mar!

Vivo onde minha alma se encontra
Sou lúcida como a paixão,
Porque onde há Gabi, tem de haver paixão.
E onde há paixão, há mar e estrelas
e portos com os quais sonham os marinheiros.

No dia em que a Gabi se for,
A paixão deve continuar.
Bem como o mar, as estrelas e os portos
Nos quais novos marinheiros irão atracar.
Contudo, no dia em que a paixão se for,
Esqueça a Gabi.

Gabi será des-significante.
Gabi será abaixo da
média,
Média, comum e medíocre
mil vezes mais que o mar
e as estrelas
e os portos
nos quais os marinheiros
vão se atracar com novas aventuras
sem paixão.

19/08/2011.

Esquizofrenia

(Parte I)

Não há paz no seu jantar,
Você salgou demais a salada
E apimentou a carne
E exagerou no conhaque do molho madeira.

Não há paz no seu amor,
Pois procurastes respostas em madrugadas ao telefone,
Bilhetes de adeus nos seus livros,
Justificativas absurdos pro nosso mundo particular.

(Parte II)

Mas também não há felicidade
Nas minhas fugas efêmeras,
Nos meus matinês sem você.

Não há alegria nas minhas manhãs sem perspectivas,
Nos beijos à face consternada que carrego contra o frio.

Por fim, não há amor entre nós.
Pode mesmo ser que nunca tivesse havido.

Demos as mãos a um tremendo engano
E aí rodamos nossa ciranda.

Meu amor queria só um par...
Giramos até colidir com a realidade.


20/08 e 24/08/11.

Dos natáis, o menos pior: o do eu

Gabi não tem mais passado.
Gabi não é admiravelmente nova, como um recém-nascido, mas não tem história, não tem memória pra contar à mesa na ceia de Natal.
Gabi tem gosto amargo na boca, olhos arregalados prum mundo de poucas surpresas.
Gabi já não sabe da mentirosa que a iludiu e das mentiras que contou ao iludido. Já não faz diferença.
Gabi nadou demais pra morrer na praia. Gabi não faz reflexão acerca do peru passado, presente e no ponto ou cru e ambulante.
Gabi só tem sobrevivência em feriado hipócrita.
Se era assim que você queria, por deus, eu dizia, assim seria. Não ousaria ser diferente, não inovaria tua palavra. Seu amor fazia círculos lentos na minha nuca.
Dizia que eu não precisava lutar por nada, mas como eu sentia que sim!, precisava. Do fundo do meu íntimo, era isso que minha constituição mais básica gritava.
Não se podia ter algo tão bom assim com alguém, de graça, sem revés, sem pagar. Nosso amor era mais do que proibido.
Minha alma espera por ti. Anda nas ruas procurando um relance dos teus trejeitos, busca no teu olhar uma dica. Uma palavra e me estremecerá, uma palavra e ressuscitarei.
E o medo de perder-te? Tenho remoído entre meus dentes a paranoia de que algum dia tua carne se esquive da minha...
Não me vistes exortando teus ensinamentos, não me vistes flagelando-me em angústia, gritando e chorando e me arrependendo.
Teus olhos têm me derretido... Ah, amor. Como é difícil amar e - mais difícil ainda - ser amado de volta. A gente se acostuma a dar, somente, sem cuidar do que se recebe, só porque um dia acabaria, inevitavelmente....