quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

De bico fechado

Calei. Certo dia, calei.
Calaram-se minhas vozes, pois não era unívoca. Calou-se papel e caneta nos meus dedos e esta escorregou e se perdeu. Por fim, calaram-se meus dedos diante da tela, central de informações corrente e cotidiana.
Calei como o infrator pego no ato, em flagrante. Calei como o professor diante do improvável naquela segunda fatídica de março. Calei como têm feito os chefes de estado sobre os problemas de conjuntura ampla.
Calei-me, no direito de só falar frente a um advogado. Mas podia ser um médico também - bem, qualquer homem gentil e inteligente... Não, não falaria nem mesmo frente a um homem gentil! Chega dessa palhaçada, ora essa.
Calei-me e nisso tenho ido bem. Porque calar é cômodo. Calar é óbvio. Cala aquele que não quer errar, tal a armadilha das palavras.
Em verdade, em verdade, vos digo calei quando tu voltou, filho pródigo. Porque, bem, era realmente muito possível que voltasses, entretanto, não pude fazer nada se não calar. Colei os lábios, relaxei a postura. Meu olhar cai, abandonado e reticente.
Não poderia, pois, jamais externar o que senti quando voltastes? Será proibido e punido coercitivamente?
Calei, sem mais. "Sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar", disse Wittgentstein.
Páginas em branco na minha agenda: do silêncio fiz nova poesia. Calada.

14/08/2011.

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