sexta-feira, 27 de maio de 2011

Fica entre nós.

Comemos - e há uma mesa entre nós.
Estudamos - e há muitos livros entre nós.
Nos conhecemos - e há amigos entre nós.
Nos casamos - e há uma multidão entre nós.




Nos amamos - e nem assim estamos sós:



há carne demais entre nós



E nossas

almas.

No sofá da sala

Um laço de compreensão infinita que se dissipa,
Uma chuva de verão que se esgota -
E mesmo que feita para acabar,
Nos abandona, perplexos.

Status quo

E tudo o que todos dizem é que estou exatamente onde deveria estar.
E é isso que me mantém coesa.

Desconhecido

Meu amor é só uma parte de mim
que ainda não me conhece.
Introduzo-me paulatinamente
em seu coração
para que comece me amando do princípio.

Lúcifer

Te pensei verdade-absoluta
para iluminar o meu caminho tempestuoso
E teu raio de sol me fez virar
A cara que nem tapa.

Fidúcia

Nada me compra essa sensação
De ter certeza no que defendo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Um bater de asas, um furacão aqui

Vejo com pouca clareza. Bate no meu peito, no entanto, um motor cardíaco mui semelhante ao vosso e que padece também pelo que não vejo, que sente o impacto até do pouso do lepidóptero menos desajeitado do mundo.

Nove de Fevereiro de 2011

Desaprendi a escrever para outra pessoa que não você. Isso ocorreu certamente porque chegou o momento em que eu fiquei profundamente mergulhada num sentimento atroz da mais pura adoração. Só era bom o que era parte de ti e o era duas vezes mais. Primeiro porque você era inigualável. Segundo, porque o que te integrava possuía o ser meu também - de repente, TODO o seu ser me pertencia, não propriamente a mim,mais a minha veneração, ao meu altar pessoal.
Foi então que desaprendi a escrever at all. Ocorreu que se tornou tão natural a mim que me integrava. Era necessário olhar ao espelho para ver-te e como me sufocava pensar em te perder! Deixei de escrever porque, nesse estágio avançado de minha doença crônica. não era mais necessário que eu me comunicasse. Ou assim julguei. Julguei que esse amor já não encontrava significação na linguagem mortal. Julguei e sonhei com uma eternidade feliz que certamente não me pertence.
Quando arrancou seu pedaço do meu pedaço foi como perder minha versão tátil do paraíso.
Então, desaprendi a amar...

Antologia de Nada

Venda sua alma, escritor.

Vá cometer um sem número
de depravações poética$.

Nunca Resignada

Não, não te idealizo.
(Conheço-te de verso e
de transverso,
Longitudinalmente se o preferir.)

Não, não estou chocada.
(Há de se aceitar, por força,
Que a vida é cheia de ciclos.
Além do mais, sei perder.)

E não, não te ouço
quando você diz que não te sensibilizo mais.
(Minha poesia viveria, sim,
sobreviveria, melhor dizendo,
Mas não pode haver fortaleza sem brecha
Entrada secreta que seja
Ou aríete que não escancare os portões.)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Persona

Você partiu em sua esquizofrenia,
completa Alice,
Encontrar um Dom Quixote
E outros heróis em escândalo total.

Personagem de livro,
te inventei num ato eufórico.
Você saiu das minhas páginas
E confirmou as predições de um Tirésias qualquer:
Eu te inventei pra me machucar.

Passada a euforia criativa,
A alegria criadora,
Volto aos meus dias só pra constatar
que dei vida efêmera
A um ser feito de palavras,
palavras escritas com nanquim,
arranhadas com bico de pena,
Palavras duradouras.

Ciência Empírica

Nossas bocas vazias se uniram
E formavam um único ser
feito todo de vácuo.

Fizemos uma ciência empírica
Recheada de jogos
para passar o tempo.

Sim, insistíamos nos erros
só pra ver no que ia dar.

e todos nós acabamos
violados pelo vício,
aterrados pelo medo,
consternados pelo vácuo.

(Nosso pequeno monstro se
voltara
contra
nós.)

03/05/11

Conto de terror

O gosto do novo
Era ansioso,
Era todo insonso.

Olhares frequentes
Para que então se torne urgência.

É, pois, que nossos caminhos se tornaram
Trilhas conhecidas
Ainda que eu precisasse de ajuda
Para não nos perder.

E foi tanta a familiaridade,
que partimos para o velho hábito -
Com que honestidade nos conhecíamos.

Dê dinheiro, mas não dê intimidade:
Sem aprender, foi assim que nos enclausuramos
Em pequenas celas,
Mas que estavam em grandes torres,
Guardadas por muitos dragões.

Assim, não havia herói que aguentasse.

03/05/11

Sem Caixinhas de Música

Esquece essa tua valsa de amador,
Desfaz esse teu feitiço inerte.

Eu cometo meus grandes feitos
de cara limpa
E eu me intrometo
sim
na sua
Preciosa vida.

Beijo

Nos lábios que eu beijo
só não encontro os seus.

Outono 2011

A partida
foi dolorosa,
A partilha
foi tão custosa.



E não sobrou nada
de que pudéssemos nos gabar.

Hiperventilado

Me chamo vento. Sou leve. Beijo seu rosto sem pretensões – e se existem são aéreas. Sou brisa suave entre seus dedos, faço pressão nos seus lábios. Te envolvo a cada passo, desisto de promessas porque não há mais rota... faço a curva em teus ombros. Sim, estou sempre contigo, moldo-me em seus atos, porém permaneço intocável.

Se fechas a mão, esvaneço por entre seus dedos. Abre-a e me terás novamente. Estapeie-me e me recomporei tão rápido quanto se movimentares. Completo suas inseguranças e imperfeições, sustento-te quando achas que ninguém te apóia.

Me chamo vento, sou efêmero. Sou essencial a sua respiração, sou teu ar em movimento. Me chamo vento. Me esquecerás tão depressa quanto se lembrares de mim. E ainda que se esqueça, precisará – e muito –, logo, ainda assim estarei contigo. Me chamo vento e meu mal é ser invisível.

Egolatri(n)a

Seu ego será capaz de criar provas incontestáveis...
Sobre QUALQUER coisa.

Juros

O dinheiro é a medida através da qual o tempo começa a fazer sentido.

XV de Novembro

E antes que você perceba
nós faremos o mundo colidir
com seus planos pessoais.

E você sentirá que
vale tanto quanto
as pedrinhas
da calçada da XV.

Standard

Meus longos grandes olhos pidões
Refletindo apenas o estado padrão
Da minha consciência.

Dois segundos e uma reflexão

Me olho no espelho,
Só para ter certeza
De quem sou.

Mas dessa vez me olhei no espelho
E não era eu.

No ponto de ônibus, o mudo nos sorriu
E fez entender que (seu) deus sorria também.

Voltei, nauseada,
e restaurei meu caos harmônico.
Mas olhei no espelho
e eu tinha muitas rugas -
envelhecera dez anos talvez -
e, não,
não era eu.