segunda-feira, 15 de março de 2010

Ceifadores da própria existência

Doce safra de ceifadores da própria existência,
Tua presença é silenciosa como a noite.

Eu me junto ao grupo com o peito aberto, perfurado por um anzol
E a luz de dentro saindo e se extinguindo pela ferida.
Choro agora, como todos os que não choraram antes,
A vida pesada que tive, puxada pra baixo por qualquer coisa extra-gravitacional.

A luz do peito se extinguindo.
O amor declinando.
A vida dando seu último recado.

Eu mergulhei em milhões de pensamentos desconexos
E saí convenientemente enxuta – meus pensamentos ficaram por lá mesmo.
Na melhor das hipóteses, poupei-me das preocupações insólitas que são os pensamentos.

Por meses, caro amor estrangeiro qualquer, eu sobrevivi a um deserto repleto de infernos emocionais.
Deitei a cabeça no travesseiro e esperei passar.
(Esperei que aliviasse, ao menos, mas não passou.)

Quebra-cabeças.
O pau quebra-cabeças quebrando a minha cabeça enquanto tento dormir.
Só acordo atordoada – sim, é assim que tem sido.

Quem sabe, uma vida de misericórdias aguarda por mim,
Mas, enquanto isso, juro padecer por conta própria, somente.
(Quem sabe se não estará lá meu anjo?)

Doce safra de ceifadores da própria existência,
Tua presença é silenciosa como a noite.

E a cada queda eu juro já não sentir mais dor.

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