segunda-feira, 15 de março de 2010

Intervalo de Pensamento

Por alguns momentos me iluminava a idéia de que todos aqueles homens estavam ali por mim, se submetiam aos meus caprichos por vontade própria, escutavam minhas palavras de forma mais atenciosa do que eu merecia.
Eu bem sabia que eram meus amigos. E que faziam aquilo tudo com medo da despedida. Ou o medo fazia aquilo com eles. Mas, entenda, eram homens. A situação toda expunha a dependência e a fragilidade no cerne deles. Eu era suas mães.
Ou Branca de Neve. Eles, os anões, presos em uma infância impossível e em parte bajuladores – sem saber como sê-lo – e grosseiros – pela prática com a matéria-bruta. Só que o meu destino era a maçã proibida, a pedra lapidada que circulava sem sentido diante de faces admiradas e mãos descuidadas.
Eram homens, ora. E nem um intervalo de pensamento poderia tirar aquilo deles, por mais que eu tentasse. Aquilo fazia deles qualquer coisa mais distante que uma parte de mim, do meu próprio corpo, embora também os fizesse meus amigos. Uma parte intocável da minha personalidade.
Nada que uma boa mágoa um dia não pudesse dilacerar, como tem sido tudo com a vida.

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