segunda-feira, 15 de março de 2010

Menina-dos-olhos

Olhos brilhantes. Ela mexe os dedos dos pés por dentro dos sapatos. Olhos brilhantes. Ela quer dizer alguma coisa. Olhar fixo. Ela sorri. Há um sorriso nos lábios. Um sorriso maquiavélico. Fecha os olhos e respira com satisfação. Naquele único ato, está se vingando do mundo inteiro. Está privando a própria presença e genialidade de milhões de pessoas. Ali, tem mais poder que Deus. Está tão alta que não pode mais descer de seu trono de poder.
Sorri, alegria doentia. Nunca sentiu tanta satisfação no mundo, nunca sentiu tanto prazer. Joga a cabeça para trás. Ela roubou as rédeas do seu destino. Sabe que todos ficarão boquiabertos quando souberem que ela teve coragem. As mãos se traduzem no gesto irônico da reverência e então se erguem bem altas. Os olhos abrem. Brilhosos. Então, um mergulho perfeitamente ensaiado de 60 metros.
(Não se preocupe, não é um problema. Antes do quinto andar, ela já terá tido um ataque cardíaco.) Ouve-se um único baque. Os vizinhos vão espiar, assustados. Pareceu tiro. No rosto, o escárnio estampado. Ouviu-se um único baque. E dentro de todos os corações, a aflição. Olhos inocentes são tampados, assim como os dela ao chegar da sirene.
Muitos jamais entenderão o que é o suicídio.

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