Gente comum tem em todo lugar.
Se você reparar, são todos bem iguais.
A vida brinda com tristes coincidências.
Já a loucura é linda,
Entenda bem.
É uma sabedoria que é além do ser,
Trancedente à nós,
Independente da existência.
Hoje à noite, abrigarei em minha casa
Toda sorte de assassinos perversos.
Num abraço apertado, terei cada suicida, individualisticamente.
Nas minhas camas limpas, deitarei os maníacos-depressivos.
Ao louco não se contradiz, se obedece.
Talvez a humanidade pudesse ter aprendido isso antes,
Com mais graça e ternura.
Virão comigo os pedófilos inveterados
E todo tipo de sociopata.
Porque nós conhecemos bem a indiferença
Assim como
nos conhecemos.
Casarei com todos os psicopatas sádicos,
Que esses não tem coração, como eu.
E você, leitor, que acha isso tudo tão absurdo
Quanto logicamente insano, saiba bem que
Só é saudável quem não foi suficientemente analisado.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Pacto Comum
Demorei um tempo da minha vida para atingir esse pacto comum com o sarcasmo. Eu com ele, o escárnio comigo. Nunca mais fiquei sozinha.
Pretérito Perfeito
Como que espontaneamente, quase sem a minha vontade, quase sem o meu esforço, amei. Segunda vez, amei. Só porque talvez não tenhas acreditado: amei.
O que é o verbete "epifania"
Essa tal de "epifania", fui descobrir bem mais tarde, era como se as moléculas de dentro do seu corpo se agitassem mais rápido e de maneira sincronizada, produzindo um prazer indizível. Com a mesma facilidade, elas tornavam a se desorganizar e a queda era rápida e efetiva.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Pouco coeso
pequenez ante a vida
e pé-ante-pé na jornada da auto-destruição.
sempre a vergonha de olhar no espelho
pelo medo do que os olhos encontrarão.
(a desistência da vida é feita de horas,
muitas horas)
tudo ver e nada doer
ou alegrar.
isso como se já fosse planejado,
ilusão!
os planos vem depois do fim dos sonhos.
paradoxo eis: os sonhos, que são bons, são sempre mal tratados.
as poesias que eu ganhei
somar-se-ão
aos dias que eu perdi.
a força hercúlea de um novo passo
contra a facilidade de despejar uma nova palavra no papel.
as Parcas sabem e dizem
"quanto mais perderás dos seus,
menos sentirá a falta deles, menos falará,
até não ser."
eu me alimento de esforços diários.
e pé-ante-pé na jornada da auto-destruição.
sempre a vergonha de olhar no espelho
pelo medo do que os olhos encontrarão.
(a desistência da vida é feita de horas,
muitas horas)
tudo ver e nada doer
ou alegrar.
isso como se já fosse planejado,
ilusão!
os planos vem depois do fim dos sonhos.
paradoxo eis: os sonhos, que são bons, são sempre mal tratados.
as poesias que eu ganhei
somar-se-ão
aos dias que eu perdi.
a força hercúlea de um novo passo
contra a facilidade de despejar uma nova palavra no papel.
as Parcas sabem e dizem
"quanto mais perderás dos seus,
menos sentirá a falta deles, menos falará,
até não ser."
eu me alimento de esforços diários.
Conhecidos
Aqueles eram meus amigos, meus vizinhos, meus amores, meus irmãos. Eram todos loucos, insanos mesmo. Todas as noites, acolhiam meu perverso estrangeirismo e alguns deles me aceitavam estranhamente para sempre. Meus amantes mordiam a minha carne e gritavam nela a angústia muda dos meus dias, me envolviam com mil braços e derramavam seu pranto.
Sempre soube que tinha vocação para emudecer. Com o meu coração manutenido no grande manicômio dos meus verdadeiros conhecidos, colei os lábios uns nos outros e arranquei para fora a língua. Bem verdade que meus amores conseguiram que eu voltasse a abrir a boca para beijar, mas esta já estava oca.
A verdade é que aos loucos não se nega nada.
Sempre soube que tinha vocação para emudecer. Com o meu coração manutenido no grande manicômio dos meus verdadeiros conhecidos, colei os lábios uns nos outros e arranquei para fora a língua. Bem verdade que meus amores conseguiram que eu voltasse a abrir a boca para beijar, mas esta já estava oca.
A verdade é que aos loucos não se nega nada.
Lei da Recíproca Poética
Um poeta sem inspiração é uma pessoa comum.
A recíproca não é verdadeira.
Uma pessoa comum que pensa ser poeta
não é poeta - é só idiota.
Ser poeta é um estilo de vida, é uma maneira de ver o mundo.
Além disso, você precisa de sorte, muita sorte.
Sorte o suficiente para ser azarado ao mesmo tempo.
(E nessa classificação, eu só me encaixo, necessariamente, na última parte.)
A recíproca não é verdadeira.
Uma pessoa comum que pensa ser poeta
não é poeta - é só idiota.
Ser poeta é um estilo de vida, é uma maneira de ver o mundo.
Além disso, você precisa de sorte, muita sorte.
Sorte o suficiente para ser azarado ao mesmo tempo.
(E nessa classificação, eu só me encaixo, necessariamente, na última parte.)
Ceticismo
Minhas piores expectativas com relação ao Inferno
Se resumem a uma pia toda cheia de talheres
a serem enxutos.
Na verdade, é um verdadeiro balde deles,
Uma pia tendendo ao infinito.
É por isso que os possíveis diabos não me assustam
tanto
mais.
Se resumem a uma pia toda cheia de talheres
a serem enxutos.
Na verdade, é um verdadeiro balde deles,
Uma pia tendendo ao infinito.
É por isso que os possíveis diabos não me assustam
tanto
mais.
Aos anjos o que é próprio dos anjos
O anjo mais cruel que existe foi aquele que caiu das nuvens do seu senhor e teve as asas arrancadas no inferno à lâmina quente. Seus vícios eram como os meus, seus pecados também. Nos seus lábios eu li o futuro entre cortes, nas suas mãos eu apreciei o sofrimento.
Cansado das andanças ermas pelo deserto e pela cidade, o invisível rubor da indiferença subiu-lhe às faces. Trazia na pele encouraçada de poeira as cicatrizes já abertas, tal o martírio que lhe pertencia.
Pobre! Nem o Diabo lho aceitava; sua Via Crucis era inútil. Fora sempre imperfeito nos seus caminhos, até o último de seus dias. E eram esses dias feitos de trabalhos sucintos, porém intermináveis. Certa vez, começou a cavar sete léguas por mão, de novo, até o inferno.
Todo o seu ser era maculado e nos seus olhos nem uma gota do sagrado antigo lhe restava. Ele sangrava pelos poros.
Foi naqueles olhos que eu jurei ver o tormento eterno. Nunca conheci quem amasse tanto.
Cansado das andanças ermas pelo deserto e pela cidade, o invisível rubor da indiferença subiu-lhe às faces. Trazia na pele encouraçada de poeira as cicatrizes já abertas, tal o martírio que lhe pertencia.
Pobre! Nem o Diabo lho aceitava; sua Via Crucis era inútil. Fora sempre imperfeito nos seus caminhos, até o último de seus dias. E eram esses dias feitos de trabalhos sucintos, porém intermináveis. Certa vez, começou a cavar sete léguas por mão, de novo, até o inferno.
Todo o seu ser era maculado e nos seus olhos nem uma gota do sagrado antigo lhe restava. Ele sangrava pelos poros.
Foi naqueles olhos que eu jurei ver o tormento eterno. Nunca conheci quem amasse tanto.
Soneto à Bebida, ao Amor e à Trova
Pegarei na tua mão com escusos
Propósitos por detrás dos meus dentes.
Sacodirei teus ombros que são como fusos
Tais quais tensos por debaixo dos sóis mordentes.
Levar-te-ei ao meu império de confidências
E então despirei teu orgulho à meia-noite.
Mas se teus passos não vêm nas minhas cadências
Vejo então que o amor não durará o pernoite.
Meus dias se alienam no bom vinho tinto,
Prova que o que digo é real como sinto
E o que sobra é a chance da vida nova.
Não largue do seu amor até vir o rum
E é em matéria de bebida, amor e trova
Que quem tem mais de um não dá valor a nenhum.
Propósitos por detrás dos meus dentes.
Sacodirei teus ombros que são como fusos
Tais quais tensos por debaixo dos sóis mordentes.
Levar-te-ei ao meu império de confidências
E então despirei teu orgulho à meia-noite.
Mas se teus passos não vêm nas minhas cadências
Vejo então que o amor não durará o pernoite.
Meus dias se alienam no bom vinho tinto,
Prova que o que digo é real como sinto
E o que sobra é a chance da vida nova.
Não largue do seu amor até vir o rum
E é em matéria de bebida, amor e trova
Que quem tem mais de um não dá valor a nenhum.
Mercúrio e Ferro
Disse o meu anjo, certa vez:
"Por onde andam seus passos, que não os vejo?
Ah, sim... Mas agora são de ferro - sim, sempre foram de ferro - com algo amolecendo-os por dentro ou por fora, ou ambos. Você sempre teve um mercúrio líquido nos olhos e agora ele é frio.
E há um vagar perdido, oscilante.
Quem é você, que eu não conheço mais?"
Então eu disse:
"Sou quem sempre era, quem sempre fui, quem sempre tive potencial para ser."
Dei as costas e andei; o anjo resmungou e sumiu em sua própria treva.
"Por onde andam seus passos, que não os vejo?
Ah, sim... Mas agora são de ferro - sim, sempre foram de ferro - com algo amolecendo-os por dentro ou por fora, ou ambos. Você sempre teve um mercúrio líquido nos olhos e agora ele é frio.
E há um vagar perdido, oscilante.
Quem é você, que eu não conheço mais?"
Então eu disse:
"Sou quem sempre era, quem sempre fui, quem sempre tive potencial para ser."
Dei as costas e andei; o anjo resmungou e sumiu em sua própria treva.
Tudo, todos.
Qualquer coisa me faz ter vontade e saudades de alma,
À medida que o rebanho humano agoniza em dor.
Qualquer coisa me arrasta de novo à superfície
Com falsos pretextos que enganam todos como eu.
Todos os outros são eu,
Todos os eus são outro.
Na pele, eu sinto o alheio.
Todo o meu sangue é empoirado,
Toda a poeira minha é ensangüentada
Sem maiores pesares.
Todo o meu corpo é frágil
E todo o meu ser mais perdeu que ganhou.
Forte como você vê,
A minha tosse move a estrutura enferrujada,
O meu pesar enfeitiça meus olhos
E ninguém precisa entender, meu bem.
Oh, deus!
Tu, que não existes!
Se existisses, teria de dizer-me logo o
Porquê do meu ser,
Que parece ter dívidas a acertar
Com um mundo inteiro que é
Absolutamente anterior a ele.
Tudo em mim
É a dor que eu quero compartilhar
Como forma de redenção...
É o niilismo que se desprede do meu corpo como perfume
E assim tem sido drenada de mim a vida!
À medida que o rebanho humano agoniza em dor.
Qualquer coisa me arrasta de novo à superfície
Com falsos pretextos que enganam todos como eu.
Todos os outros são eu,
Todos os eus são outro.
Na pele, eu sinto o alheio.
Todo o meu sangue é empoirado,
Toda a poeira minha é ensangüentada
Sem maiores pesares.
Todo o meu corpo é frágil
E todo o meu ser mais perdeu que ganhou.
Forte como você vê,
A minha tosse move a estrutura enferrujada,
O meu pesar enfeitiça meus olhos
E ninguém precisa entender, meu bem.
Oh, deus!
Tu, que não existes!
Se existisses, teria de dizer-me logo o
Porquê do meu ser,
Que parece ter dívidas a acertar
Com um mundo inteiro que é
Absolutamente anterior a ele.
Tudo em mim
É a dor que eu quero compartilhar
Como forma de redenção...
É o niilismo que se desprede do meu corpo como perfume
E assim tem sido drenada de mim a vida!
terça-feira, 4 de maio de 2010
IX
nunca será tao inútil a valsa de nossas vidas para a eternidade factual
nunca será tão farto o ranço e o sebo de nossos atos.
nunca será tão farto o ranço e o sebo de nossos atos.
Testamento
Eu não quero apodrecer nesta cidade
Na qual já sou estrangeira.
Minhas raízes não vingarão aqui,
Porque meus amores são de longe.
A casa não pode ser minha,
Aqui não ficarei.
Ninguém, ora!, nunca pensou
nos sonhos que eu sonhei?
Eu sonho com campos floridos,
eu quero casas nas árvores
E alamedas diversas!
Seja como for, isso eu não vejo esta terra,
Daqui eu não me orgulho mais.
Querem me aprisionar, justo eu, que sou uma águia.
Querem me reduzir
E justo a mim, que vivo da beleza.
Nesta terra esquecida eu não fico,
Nesta terra de ninguém eu não hei de ficar!
Na qual já sou estrangeira.
Minhas raízes não vingarão aqui,
Porque meus amores são de longe.
A casa não pode ser minha,
Aqui não ficarei.
Ninguém, ora!, nunca pensou
nos sonhos que eu sonhei?
Eu sonho com campos floridos,
eu quero casas nas árvores
E alamedas diversas!
Seja como for, isso eu não vejo esta terra,
Daqui eu não me orgulho mais.
Querem me aprisionar, justo eu, que sou uma águia.
Querem me reduzir
E justo a mim, que vivo da beleza.
Nesta terra esquecida eu não fico,
Nesta terra de ninguém eu não hei de ficar!
VII
Ser poeta não é nunca ter infringido uma regra de semântica ou concordância.
Não ser poeta é nunca ter infringido dúzias de regras da vida real.
Atônita, aflita
Pela conquista do mundo
(egoísmo).
Não ser poeta é nunca ter infringido dúzias de regras da vida real.
Atônita, aflita
Pela conquista do mundo
(egoísmo).
Eles, não nós
Eles vão tão lentamente
por onde quer que passem
E se arrastam sob nossa carne
E se derramam no nosso coração
E tomam conta do nosso corpo.
E eles gostam é do nosso sorriso,
Porque rigojizam na nossa inocência
E atrapalham nossas verdades.
Mas eu gosto é quando eles nos abraçam
E eu os admiro por algum motivo.
Eles nos amarão para sempre e nos farão monumentos
eternos na canção dos dias.
Eu os vejo todos os dias.
por onde quer que passem
E se arrastam sob nossa carne
E se derramam no nosso coração
E tomam conta do nosso corpo.
E eles gostam é do nosso sorriso,
Porque rigojizam na nossa inocência
E atrapalham nossas verdades.
Mas eu gosto é quando eles nos abraçam
E eu os admiro por algum motivo.
Eles nos amarão para sempre e nos farão monumentos
eternos na canção dos dias.
Eu os vejo todos os dias.
V
Eu tenho a peculiaridade infame
De ser aquela que corre atrás das próprias assombrações
E não o contrário.
De ser aquela que corre atrás das próprias assombrações
E não o contrário.
IV
Meus tormentos continuam,
indefinidamente.
E assim eu me prolongo com
a minha mente ensaboada
de café e náusea.
E o dia é lindo, meus amores,
carpe diem.
E os dias são lindos, meus inimigos,
me destruam.
indefinidamente.
E assim eu me prolongo com
a minha mente ensaboada
de café e náusea.
E o dia é lindo, meus amores,
carpe diem.
E os dias são lindos, meus inimigos,
me destruam.
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