quinta-feira, 10 de março de 2011

Confessional

Muitas vezes - quase sempre, na verdade - me custa muito explodir logo de cara.
Vou indo devagar, apreciando a derrocada, quase gostando do infortúnio ou dos maus tratos que sucedem o primeiro tapa. Com os olhos já no verde jade ou no azul real, vou cavando um lugar na consciência, um abrigo protetor qualquer que ao menos comece me escorando de qualquer culpa.
Então, vou me calando. Raramente choro com a obscenidade dos soluços, porque não sou mulher disso. Vou chorando no silêncio mesmo, que é mais amargo. Como não explodo de uma vez, pequenas estruturas vão implodindo em mim. Há algo nos joelhos que faz as pernas bambearem, que me faz tropeçar no vento. Algo nos pulsos que me tira a força, na face, que me remove a expressão e transfigura da calma asfixiante de outrora.
Estou num barquinho a deriva na tempestade dentro dos meus olhos de mar que ardem de sal.

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