terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ponderações pra levar a vida

Peguei da depressão a única coisa útil que ela verdadeiramente tranca dentro de você: o silêncio. Silêncio traz calma, autoconhecimento. Quando a boca se cala, o interior tagarela. Da tagarelice interior e autorreflexiva virá o silêncio. A mente desiste e torna a descansar.
Isso tudo porque a depressão é como estar preso em um labirinto com paredes de consistências diversas - macias, pegajosas, lisas -, mas sem nunca a surpresa que não o mero tato do cego que não consegue escapar.
O labirinto é a massa cinzenta do pobre coitado. Desesperado, ele pensa - pensa como se estivesse correndo - e é de pensar que seu labirinto soergue novas paredes, fazendo dele mais perdido e sujeito a armadilhas como nunca. Automutilação, que é o descarrego inconsciente da própria frustração. Autorreflexão, que é como se tudo que interessasse no mundo fôsse apenas seu pensamento ególatra. Autocomiseração, que é isenta de definições. É assim que o indivíduo, em um lento processo que toma horas e dias e meses, vai-se afundando em si mesmo. Vai cegando.
Desse labirinto só se sai de duas formas: morto de si ou quase morto e trapaceando. A primeira dispensa explicações. É um ato solitário de revolta, de não-submissão. A segunda é a mais covarde, é a fuga pelo caminho mais fácil. É como escalar o labirinto e procurar, sobre os muros, alguma luz. Tentar desse jeito nem sempre dá certo, é claro. As luzes sempre têm caráter hedonista e pouco moralista - é assim que os jovens são arrastados para o que se chama de imundície do mundo. Deus não há. Leva um tempo para consertar - isso se for possível - o que vier nessa fase.
Depois de escapar, resta a mera consciência de missão cumprida, de batalha vencida. Quanto à guerra, não se atreve a mensurar...

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